Li esta entrevista ontem aqui e gostei tanto que decidi partilhá-la por quem passa por aqui!
Adorei ler os livros do Harry Potter e achei que estas palavras tinham tudo a ver com aquilo que sinto neste momento!
É verdade que neste momento existem "Dementors" na minha vida que me andam a sugar a felicidade, mas apesar de ainda estar a aprender a evocar o meu "patrono" sinto que vou chegar lá, sinto que um dia os vou vencer!
"E o medo do mal vence-se por
agarrarmos o melhor do melhor de nós. Essa é a magia."
"Eduardo Sá (ES): Olá, Isabel!
Isabel Stilwell (IS): Olá, olá! Já está à venda
o livro do Harry Potter, em português... é o último. Uma pessoa lê-o com uma
certa nostalgia. Ao contrário dos outros, que se liam muito depressa, para
chegar ao fim. Este tem-se pena e, por isso, lê-se mais devagarinho. Para não
chegar ao fim. Porque é mesmo o fim. Mas eu estava a pensar... Há umas
personagens do Harry Potter que são os Dementors. Os Dementors são os guardas de
Azkaban, que é uma prisão. E a maneira como atacam as pessoas, ou as prendem, é
assustadora: sugam-lhes toda a felicidade. Chupam-na e a pessoa sente-se
completamente vazia. Como se não tivesse nem um bocadinho de felicidade. E a
única maneira de lutar contra um Dementor é agarrar-se à memória mais feliz do
mundo e apontar-lhes a varinha, pedindo ao nosso patrono que nos venha salvar.
E, então, sai a nossa melhor memória, sob a forma de um animal que depende da
pessoa. Nalguns, é um veado, e representa se calhar o pai, no caso do Harry
Potter. Noutros, uma rena. Noutros, pode ser um porquinho. E essa memória de
felicidade é a única coisa que é capaz de afastar um Dementor. Acho isto muito
bonito! Mas fiquei a pensar que andam por aí tantos Dementors. Pessoas que
parece que nos sugam a felicidade. No emprego, num autocarro, numa loja em que
se entra, aos saltinhos, feliz, com a alma levezinha, e se sai pesado, cansado.
Porque há pessoas que com uma frase, dois comentários, conseguem sugar-nos a
felicidade.
ES: Há, há!...
IS: E, realmente, a única coisa que nos resta é
agarrarmo-nos a uma memória feliz para não nos fazerem mal. Ou não? Ou há outros
métodos?
ES: Eu não acho que haja, Isabel...
IS: Não acha o quê? Qual parte?...
ES: Há muitas pessoas que ficam incomodadas de
sentirem alguém com vida, com esperança, com capacidade de enamoramento com tudo
o que está ao seu lado. E, de facto, essas pessoas não descansam sem as sugar
naquilo que elas têm de melhor. Às vezes, essas pessoas são professores e sugam
a felicidade dos alunos. Às vezes, acontece ao contrário. Às vezes, são pais e
sugam a felicidade dos filhos. Às vezes, são pessoas que se cruzam na nossa vida
e não param de sugar aquilo que reconhecem de saudável em nós. Uma memória (tem
de ser mágica!) ajuda. Mas mais importantes, ainda, são as nossas convicções. As
pessoas que nos querem sugar ajudam-nos muito. Quando nos obrigam a olhar bem
para dentro de nós, e a perguntar-nos em que é que acreditamos, dão-nos a mais
precisosa de todas as ajudas.
IS: Mas, Eduardo, está a falar disso como uma
coisa mais racional. Numa segunda etapa, é verdade que nos obrigam a ir abaixo,
a pensar no que realmente queremos, a deitar fora o seu «mau-olhado» e a
ressuscitar com mais força. Mas o que me fascina é a capacidade instantânea com
que nós mesmos às vezes apagamos as nossas convicções e as nossas certezas sobre
nós próprios. Até a nossa autoestima. Perante algumas pessoas que são capazes de
nos sugar, em segundos, transformando-nos em crianças pequeninas, a chorar por
um colo. E esses Dementors da vida conseguem fazer isso em segundos! Como se
tudo o que tivéssemos construído não nos servisse para nada. É claro que,
depois, passados um ou dois minutos, vão-se buscar recursos... Mas há pessoas
que têm essa capacidade!
ES: Sabe porquê, Isabel?
IS: Não sei, mas quero muito saber.
ES: Porque essas pessoas têm um dom especial.
Elas lançam, para dentro de nós, o seu mal. E aquilo que nos faz parar por
momentos é estarmos, no fundo, a sentir o seu mal, querermos reagir de acordo
com ele (que sentimos estranho dentro de nós) e ficarmos ali partidos ao meio
porque, de repente, não somos nós nem os outros. A vontade será a de reproduzir
o mal que nos fizeram sentir. Sugarmos como nos sugam. Mas como nos sentimos
iguais a quem nos intimida ficamos como crianças à procura de um colo. Como se
nós estivéssemos possuídos pelo seu olhar e pelo seu domínio. Mas uma memória
(mesmo que mágica) não chega...
IS: Não chega?
ES: Não. Às vezes ajudaria sermos um bocadinho
maus. Porque se jogarmos o jogo dessas pessoas que nos dão caneladas, acredite
que elas passam a ter medo de nós. Se não nos respeitam, ao menos que tenham
medo. Que lhes faz muito bem!
IS: Essa é boa! Vou tentar... Entre um murro na
cara e outras coisas que já prometi, vou tentar novos caminhos! (risos)
ED: Escute, Isabel. Não se trata de meter medo
ao medo. Isso alimenta quem nos faz mal. Dá-lhes poder e preponderância sobre
nós. Não se trata de responder de forma igual...
IS: Isso dá-lhes preponderância?
ED: Isso... Nem se trata de fazermos de
bonzinhos. Nem de fazermos de conta que não percebemos que nos estão a fazer
mal, enquanto estamos encostados a uma memória especial. Os guardas de Azkaban,
que é uma prisão, estão presos. Mais presos do que eles imaginam. É claro que,
enquanto prendem os outros, distraem-se de tudo o que os suga, por dentro. Mas
Azkaban fica mais perto das nossas casas ou dos nossos trabalhos do que parece.
E, sendo assim, a forma de não ficarmos Dementors passa por lhes explicarmos que
só nos suga quem se sente mortificado por dentro. E que, por mais que o desejem,
o medo com que nos tentam impedir de perceber o que se passa dentro deles não
nos impedirá de os compreender. Nunca vencemos o mal. Vencemos, isso sim, o medo
que o mal nos impõe (mesmo depois de vacilarmos). E o medo do mal vence-se por
agarrarmos o melhor do melhor de nós. Essa é a magia.
"As pessoas que nos querem sugar ajudam-nos
muito"
in Os dias do avesso
{do programa da Antena1 com o mesmo nome}"
O grande Eduardo Sá... meu Professor e orientador de Tese. Era de ficar de boca aberta a ouvi-lo.
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